A confirmação de dois casos suspeitos de intoxicação por metanol na Bahia reacendeu memórias de uma tragédia que marcou o estado nos anos 1990. Naquele período, pelo menos 51 pessoas perderam a vida após consumir bebidas adulteradas com a substância — e muitas outras ficaram com sequelas irreversíveis, como cegueira e surdez.
O episódio mais chocante ocorreu em Santo Amaro, no Recôncavo baiano, em julho de 1990, quando 16 pessoas morreram e 20 foram hospitalizadas. A cachaça que circulava na região estava misturada ao álcool industrial, usado em solventes e altamente tóxico para o organismo humano.

Quase uma década depois, em 1999, novos surtos voltaram a assustar o estado. A Secretaria da Saúde da Bahia (Sesab) confirmou, à época, 35 mortes por envenenamento com metanol, incluindo o caso de uma mulher grávida de cinco meses. Nesse mesmo período, uma fábrica clandestina foi descoberta em Iguaí, no sudoeste baiano: o local produzia cerca de 250 litros de cachaça por semana, armazenados em tonéis plásticos que antes transportavam metanol.
Por que o metanol mata?
Diferente do etanol — o álcool comum encontrado em cervejas, vinhos e cachaças de origem legal —, o metanol não pode ser metabolizado pelo corpo humano. No fígado, ele se transforma em substâncias como formaldeído e ácido fórmico, que se acumulam no sangue e destroem tecidos, atacando o cérebro, os rins, o fígado e até os nervos ópticos, levando à cegueira, coma e morte.
Especialistas alertam que a dose fatal pode ser de apenas 1 ml por quilo de peso. Ou seja, uma pessoa com 70 kg pode morrer ingerindo cerca de 70 ml da substância — menos da metade de um copo de café.
Alvo da falsificação
De acordo com químicos, o interesse dos falsificadores se concentra em bebidas de maior valor de mercado, como whisky, vodca e gim, que garantem lucros maiores quando adulterados. Já cervejas e vinhos, por terem preços mais acessíveis, raramente entram no radar dos criminosos.
Agora, com os novos casos em Feira de Santana e Salvador, o temor é de que a Bahia volte a enfrentar um problema que parecia enterrado no passado. As autoridades já reforçaram os alertas e pedem que a população redobre os cuidados na hora de comprar bebidas alcoólicas, evitando produtos sem procedência ou vendidos a preços muito abaixo do mercado.








