MB: Você é bastante conhecido por sua atuação na cena artística e cultural feirense através do teatro. Poderia nos falar um pouco sobre sua carreira e a relação dela com a cidade de Feira de Santana?
GV:Me sinto como um dos grandes fomentadores da nova cena teatral feirense. Sou de Itaberaba, cidade que nasci e já havia feito alguns trabalhos em teatro, mas vim morar em Feira de Santana em 1993 para fazer o curso de Letras na UEFS, lá fui estimulado pelos professores e por minha experiência na área de apresentar os resultados dos trabalhos (seminários) sempre apresentando uma encenação e deixando-os criativos. Formei então meu primeiro grupo na cidade, os “Acadêmicos da Arte”, de lá pra cá não parei. No ano de inauguração do CUCA fui convidado para ministrar uma oficina de teatro e da instituição não saí mais, são 17 anos como professor da área.

GV: Com tanto tempo de experiência, lecionando teatro no Cuca, passei a fazer projetos de oficinas mais específicas como a de “dramaturgia corporal”, onde os alunos exercitam a expressividade corporal. O objetivo é contar uma história apenas utilizando da linguagem física. Dessa oficina já surgiu o Grupo Conto em Cena que é um dos mais atuantes na cidade hoje e agora lançando o Cordel em Cena que tem a proposta de montar peças com temáticas dentro do universo sertanejo.
MB: Quem são os integrantes e colaboradores do Grupo Cordel em Cena? De que forma ingressaram no grupo? São todos atores ou pessoas oriundas do teatro?
GV:Como disse, são pessoas que fizeram oficinas iniciação teatral com outros professores e agora está direcionando o seu talento para a técnica do teatro físico.
MB: De onde surgiu a ideia de utilizar elementos da cultura feirense – e nordestina de modo geral – nos espetáculos teatrais? De que forma essas referências culturais e identitárias são trabalhadas nas apresentações?
GV: Bom, Feira faz parte do semi-árido, aqui a figura do vaqueiro, do cordelista é muito forte. Então, por ter o cordel uma linguagem narrativa (o que é muito bom para o trabalho da dramaturgia corporal) resolvemos colocar nos palcos os folhetos de cordel, mas já na última montagem, utilizamos a música de Luiz Gonzaga pra criar AMOR EM LUIZ, que está dentro da nossa proposta, mas é uma história criada pelo grupo.
MB: O que é o Projeto Baião de Dois? Qual é a sua proposta e quais são as suas principais atividades?
GV: Baião de dois é uma comida típica sertaneja, como tínhamos a vontade de fazer os dois espetáculos do grupo ao mesmo tempo, optamos por dar um título ao projeto que fizesse parte desse imaginário.
MB: Os dois espetáculos previstos para o mês de agosto – A chegada de Lampião ao infernoe O amor em Luiz – retomam duas figuras bastante caras ao imaginário sertanejo: Lampião e Luiz Gonzaga, respectivamente. Ninguém trabalha “impunemente” com esses dois grandes ícones da cultura nordestina. Como foi, para o grupo, lidar com essas duas referências?
GV: Pois é, eles chegaram a partir da pesquisa de cordéis que pretendíamos montar, foram dezenas de folhetos que lemos e na pesquisa, chegamos a conclusão que um dos mais conhecidos era “A chegada de Lampião…”. Quando lemos, todos do grupos ficaram fascinados pela história de Lampião que fez a maior bagunça no inferno, achamos muito divertido e logo começamos os ensaios. No caso de Luiz Gonzaga foi uma homenagem às comemorações do seu centenário no ano passado.
MB: Qual o argumento da peça A chegada de Lampião ao inferno? O que o público deve esperar do espetáculo?
GV: Lampião, após sua morte, para no inferno e causa o maior problema com o cão e seus capatazes, uma guerra é travada por que ele não poderia ser recebido depois de causar tanto terror no sertão.
MB: O amor em Luiz é um espetáculo que une referências a um clássico da Literatura –Romeu e Julieta, de Shakespeare – e a obra de Luiz Gonzaga. De onde surgiu a ideia de articular Shakespeare com Gonzaga? Como isso funciona na peça?
GV: Como foi dito, queríamos homenagear o “Rei do Baião”, assim começamos a pesquisar músicas que de alguma forma se interligassem. Encontramos uma experimentamos, pois contava uma história muito interessante. Fizemos e depois pensamos, o que vai acontecer depois que acaba esse enredo? Começamos a elaborar um roteiro e surgiu a guerra entre duas famílias, aí chegamos a Romeu e Julieta. Se os pais se odeiam, que tal se os filhos se apaixonassem, já que no passado o motivo da discórdia foi o também o amor?
MB: Trabalhar com referências culturais tão próximas e tão caras ao imaginário popular tem a vantagem de estabelecer com o público uma identificação com aquilo que é apresentado, diminuindo a distância entre a obra e o espectador, principalmente no tocante àquela parcela da população que não tem o hábito de ir ao teatro. O trabalho do Cordel em Cena se desenvolve nesse sentido de cativar/ cooptar o público para o teatro?
GV:Sim, claro. O cordel para o público de Feira é muito significativo por sermos Nordestinos, baianos e inseridos em uma cidade que retrata tão bem o semi-árido e o sertão. Mesmo não tendo lido um cordel na vida, o público se reconhece nas obras.
MB: Qual a agenda das atividades e apresentações do Cordel em Cena para o mês de agosto?
GV:Os dois espetáculos serão apresentados no mesmo dia, sendo que as apresentações acontecerão nos dias 02, 03 e 04 de agosto. Sexta e sábado, às 20h e no domingo às 19h.
MB: O que o Cordel em Cena está preparando para o público feirense nos próximos meses de 2013? Poderia nos dar uma prévia do que está sendo desenvolvido pelo grupo?
GV:Sim, estamos em um processo de pesquisa para um espetáculo ainda sem título que terá como pano de fundo a história de Feira de Santana e fatos interessantes que aconteceram e que são desconhecidos dos que aqui moram.
MB: O Municípios Baianos agradece a presteza e a gentileza na concessão da entrevista, e abre espaço para que você deixe uma mensagem/convite ao público feirense encerrando – por ora – o nosso bate-papo.
GV:Queremos que todos prestigiem o nosso trabalho que , com certeza, encantará a todos. Temos em nosso trabalho um resultado que pode entreter e educar além de trazer para os palcos o que realmente somos, sertanejos com muita honra.
Entrevista realizada por Andréia Araújo editora responsável pela área de educação e cultura do Municípios Baianos
Postado originalmente no site Municípios Baianos








