Discos redondos de terra seca, conhecidos como “círculos de fadas”, têm intrigado cientistas por décadas devido às suas origens misteriosas. Originalmente observados em áreas áridas, como o deserto do Namibe na África meridional e o interior da Austrália ocidental, esses padrões enigmáticos agora se revelam muito mais difundidos do que se pensava. Graças ao uso inovador da inteligência artificial, cientistas podem estar um passo mais próximos de desvendar esse mistério de escala global.
Recentemente, um estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences utilizou a inteligência artificial para identificar padrões de vegetação semelhantes a círculos de fadas em centenas de novos locais, abrangendo 15 países em três continentes. Isso poderia representar um avanço significativo no entendimento dos círculos de fadas e de como eles se formam em diferentes partes do mundo.
Para realizar essa pesquisa, os cientistas recorreram a conjuntos de dados contendo imagens de satélite de alta resolução de áreas áridas em todo o mundo. Eles treinaram uma rede neural, um tipo de inteligência artificial que processa informações de maneira semelhante ao cérebro humano, usando mais de 15 mil imagens de satélite da Namíbia e da Austrália, onde os círculos de fadas são mais conhecidos. Metade dessas imagens continha círculos de fadas, enquanto a outra metade não.
A IA foi então alimentada com dados de quase 575 mil áreas de terra em todo o mundo, cada uma com aproximadamente 1 hectare de extensão. A rede neural escaneou a vegetação nessas imagens em busca de padrões circulares que se assemelhassem aos círculos de fadas. A análise resultante passou por revisões manuais para eliminar estruturas artificiais ou naturais que não se enquadravam na categoria dos círculos de fadas.
O resultado revelou 263 locais em todo o mundo com padrões circulares semelhantes aos círculos de fadas da Namíbia e da Austrália. Essas áreas abrangem diversas regiões, incluindo partes da África (como o Sahel, Sahara Ocidental e Chifre de África), Madagáscar, o Centro-Oeste da Ásia, bem como o centro e sudoeste da Austrália.
No entanto, definir com precisão o que são os círculos de fadas ainda é uma tarefa desafiadora. De acordo com o Dr. Stephan Getzin, pesquisador da Universidade de Göttingen na Alemanha, os círculos de fadas são caracterizados por um padrão altamente ordenado entre os círculos, o que os diferencia de outros tipos de áreas de vegetação rala e espaçada. Esse padrão espacialmente periódico é significativamente mais organizado do que outros padrões naturais. Portanto, nem todos os padrões identificados neste estudo atingiram esse alto nível de organização, de acordo com Getzin.
A definição exata de círculos de fadas ainda não é consensual, mas o estudo referenciou diretrizes de pesquisas anteriores para identificar possíveis candidatos. Tanto os círculos de fadas antigos quanto os novos mostraram métricas espaciais virtualmente idênticas.
Além de identificar os padrões, os cientistas também compilaram dados ambientais em áreas onde esses círculos foram avistados. Isso proporcionou algumas pistas sobre as possíveis causas de sua formação. Os padrões semelhantes a círculos de fadas parecem ser mais comuns em solos extremamente secos e arenosos, altamente alcalinos e com baixo teor de nitrogênio. Além disso, esses padrões parecem desempenhar um papel na estabilização dos ecossistemas, tornando as áreas mais resistentes a distúrbios como inundações e secas extremas.
No entanto, a questão de como os círculos de fadas se formam ainda é complexa e pode variar de local para local. Diferentes fatores podem estar envolvidos na formação desses padrões. A pesquisa realizada na Austrália Ocidental, por exemplo, demonstrou que a atividade de cupins está intrinsicamente ligada aos círculos de fadas da região.
Os aborígenes australianos têm conhecimento desses padrões há gerações e atribuem sua formação à dinâmica entre cupins, gramíneas, solo e água. Portanto, a interpretação desses fenômenos deve levar em consideração as particularidades de cada região.
Muitas perguntas sobre os círculos de fadas ainda não foram respondidas, mas o uso da inteligência artificial e a identificação de locais em todo o mundo representam um passo significativo em direção ao entendimento desse fenômeno intrigante. Os cientistas estão otimistas de que seu atlas global abrirá um novo capítulo no estudo dessas áreas áridas e misteriosas, fornecendo insights valiosos sobre sua formação e função nos ecossistemas em escala global. Com a aplicação contínua da inteligência artificial e a colaboração com comunidades locais, podemos esperar que mais respostas sobre os círculos de fadas sejam reveladas no futuro.









